São, São Paulo, Meu amor

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Ricardo Young*

Andam cantando por aí que “Não existe amor em SP”. Criolo que me desculpe, não é uma guerra de gerações, mas sou muito mais a boa e velha marcha de Tom Zé, que é mais justa com a nossa Paulicéia Desvairada ao dizer que “Porém com todo defeito, Te carrego no meu peito São, São Paulo, Meu amor”.

É certo que muita coisa mudou na Terra da Garoa desde 1968, quando Tom Zé cantarolou pela primeira vez seus versos, mas creio mesmo que, aos 462 anos, a nossa jovem senhora segue inspirando muito mais amores do que dores.

São Paulo não é um mar de rosas. Aliás, está mais para rios de esgoto, literalmente falando. As gestões, especialmente esta que vivenciamos atualmente, têm se mostrado muito aquém do desafio que é governar a megalópole e seus mais de 11 milhões de habitantes. Porém, a despeito da ineficácia dos gestores e das instituições públicas, a cidade se mantém. Cresce alicerçada na criatividade e determinação de sua população.

Não há outro lugar no país que fervilhe inovação como São Paulo. Em nenhuma outra capital vemos a população se organizando para ocupar e revitalizar o espaço público com a intensidade que observamos por aqui.

Temos iniciativas como Movimento Mão na Praça, que renova estes espaços, muitas vezes deixados à míngua pela gestão pública. Na zona sul, temos o Banco Comunitário União Sampaio, em que a comunidade gerencia serviços financeiros e bancários como instrumento de estímulo ao desenvolvimento local. Também no extremo sul, o Movimento parque dos Búfalos luta por moradia, incorporando à sua batalha a sustentabilidade. Na zona oeste o coletivo Ocupe e Abrace, que fez um trabalho lindo de resgate de nascentes na Praça Homero Silva. Temos a Rede Novos Parques, que agrega mobilizações que defendem áreas verdes em toda a cidade. Enfim, uma miríade de iniciativas que reúnem pessoas que amam a cidade e saem de suas zonas de conforto para cuidar dela.

A cidade que nunca dorme é também um berço de cultura, oferecida muitas vezes gratuitamente às pessoas, praticamente 24 horas por dia. Teatro, música, cinema. Da primeira à sétima arte, a qualquer hora e pelos mais variados preços, em São Paulo tem.

Tem também amor que floresce no asfalto. Estão aí a Avenida Paulista e o Minhocão para provar. Quando fechados estes espaços se tornam áreas de lazer e cultura, que ocupadas pela população paulistana são a mais explícita expressão da paixão do paulistano (de nascença ou de coração) por essa gigante.

A cidade tem seus defeitos. Sofre com a violência, a desigualdade social, a decadência dos serviços públicos e outras mazelas dos grandes centros urbanos. Mas nesse aniversário quero olhar só para o lado bom, para o que ela nos dá de presente. Quero fazer uma ode a sua beleza mais genuína. Quero agradecer a generosidade das pessoas que aqui vivem. Assim como a cidade abraça a todos que chegam, vamos abraça-la e, sem ufanismos, agradecer por suas virtudes e fazer o que fazemos de melhor: cuidar de suas feridas.

* RICARDO YOUNG, 58, é vereador em São Paulo pelo PPS. Foi presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

Texto originalmente publicado no HuffPost Brasil: http://www.brasilpost.com.br/ricardo-young/

 

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