A transformação mora em todos (e em cada um)

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Com as convicções de que não há nada que tenha apenas dois lados e nenhuma verdade absoluta no mundo, a teoria da complexidade ampara ações que exercitam um novo olhar para a política

Em tempos de ampliação de consciência, a desilusão com a política lateja. Um breve olhar para o passado recente já mostra exemplos como as manifestações na Praça Tahrir, no Cairo, Egito, que derrubou uma ditadura no poder há décadas, o movimento Occupy Wall Street, em que a juventude gritou sua insatisfação com o capitalismo norte-americano, e, aqui em terras tupiniquins, as jornadas de junho de 2013, que parecem ter despertado a vontade de participação política dos brasileiros (ou ao menos incomodado o sono).

Estes e muitos outros movimentos que ganharam as manchetes dos jornais na última década são o reflexo do fervilhante querer de mudança, que uma sociedade cada vez mais conectada nos traz. A tecnologia expandiu as fronteiras e permitiu o livre trânsito das causas comuns e da inspiração.

No Brasil, essa inquietação com a política tradicional tem instigado muitos grupos a pensar um fazer diferente da política, uma nova forma de olhar e executar.
No campo da política institucional, o mandato do vereador Ricardo Young (PPS) é parte de um destes grupos. Desde 2012, quando assumiu seu primeiro período de vereança, Ricardo tem buscado ferramentas e reflexões que ajudem a promover transformações no modelo tradicional que, para ele, “é arcaico e falido”.

Uma das linhas de pensamento que tem apoiado Ricardo nesta caminhada é a da complexidade. Foi para falar sobre este novo modo de pensar que a Comunidade de Práticas Políticas Transformadoras, da qual Ricardo é membro, promoveu na terça-feira (27) o ‘Diálogo Internacional sobre Práticas Políticas Transformadoras’.

O evento contou com a presença de nomes conhecidos internacionalmente, como Patrícia Shaw, da Schumacher College, e Walter Link, da Global Academy Foundation, mas o objetivo principal era promover o diálogo entre todos, incluindo a plateia. A pergunta de provocação do encontro foi “Existe um novo sujeito político emergindo?”.

Ao olhar para este questionamento, Ricardo levantou alguns aspectos, entre eles a tendência que as pessoas têm de responsabilizar o outro por mudanças que cada um pode promover. “Tendemos a dizer que a responsabilidade por mudanças na política é só dos políticos, mas eles não são os únicos responsáveis. Todos somos”, refletiu.

Para embasar seu ponto de vista, Ricardo fez um retrospecto do que levou a sociedade ao estado de inércia política e depois a querer quebrá-lo. Primeiro ele destacou o processo de urbanização intenso que o país viveu. Segundo a revolução digital, que eliminou os conceitos de espaço e tempo e criou uma interação frenética entre os sujeitos. Por último, a globalização, que escancarou a insustentabilidade do capitalismo.

“Precisamos olhar estas condicionantes e pensar em uma forma de fazer politica de mais sistêmica, mais transversal, que não tenha tendência maniqueísta, de verdades absolutas. O pensamento complexo foge da visão binária do sim ou não, direita esquerda. A polarização culmina na relação violenta, a demonização de quem está em uma posição contrária”, enfatizou o vereador.

Walter Link complementou a reflexão destacando a importância de ouvir e humanizar o outro neste processo. “Ouvir é uma capacidade humana, mas não fazemos isso verdadeiramente. Precisamos aprender a capacidade de escutar. Se fizermos isso podemos cocriar, fazer junto. Essa troca pode te levar a pensar uma solução, que não tinha pensado antes de falar com o outro”, comentou.

Corroborando com o pensamento apresentado por Ricardo, de que a transformação deve partir de cada um, Link provocou “O que você vai fazer a cada dia para mudar a politica? Nós que vamos mudar, não os políticos”.

Patrícia Shaw também concordou com a perspectiva de que pequenas ações somadas promovem grande transformações. “Estou cansada de ouvir falar de política com ambição e grandes ideias. Temos que olhar para a extraordinária participação política que está surgindo em muitas partes do mundo”, disse.

Para ilustrar este pensamento Shaw contou a história de uma vivência que teve recentemente na Espanha. Em uma cidade do interior do país, ela pôde conviver com duas jovens que conseguiram uma casa para receber pessoas que quisessem pensar, juntas, ações para chamar a atenção do mundo para a Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) para o Clima, a COP 21. “Elas usaram a tecnologia, que essa geração usa tão bem e enviaram convites para muitos países”, comentou.
As duas jovens permaneceram na casa por quatro meses e, nesse período, muitos grupos de pessoas ficaram o tempo que quiseram na casa organizando iniciativas. “Fiquei uma semana. Vi uns chegando, outros partindo. Todos precisavam se preocupar com a manutenção da casa, a comida, o envolvimento com o vilarejo. O dinheiro necessário veio do financiamento coletivo. Nessa convivência as pessoas puderam tecer muitos projetos, manifestações e muitas atividades relacionadas à COP. Essas jovens estavam desenvolvendo um novo tipo de liderança”, contou.

Drica Guzzi, da Escola do Futuro da USP (Universidade de São Paulo) trouxe para o diálogo a dimensão do tempo. “Estamos sempre ocupando espaços físicos e virtuais, mas temos que ver como ocupamos. Qual a qualidade dessa ocupação e do tempo que dedicamos para isso. A tecnologia é boa para um monte de coisas, mas nem sempre as pessoas estão ali tendo ideias”, disse.
Permeando muitos dos exemplos apresentados e reflexões propostas pelos convidados ao longo do evento, estava a importância do pensar, aliado ao fazer. “É da própria experiência do fazer que vão surgir as novas formas, os novos modelo de se fazer politica”, enfatizou Eduardo Rombauer, do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).

Young falou ainda do valor das relações. “A complexidade nos ensina que mais importante que as pessoas são as relações . É delas que emerge a verdade”. O vereador encerrou convidando a todos os presentes para que acompanhem seu mandato e o usem como um espaço de laboratório. “O mandato é um espaço de experimentação das possibilidades da complexidade na politica”, concluiu.

Participações

O evento utilizou o formato do aquário, que consiste em manter no placo cadeiras vazias para que pessoas da plateia possam compartilhar também suas experiências. Abaixo algumas das contribuições:

“As pessoas têm medo de falar e serem julgadas em suas ideias. É através da valorização das pessoas que temos o exercício mais pleno da democracia. A pessoa que se sente valorizada tem a liberdade de se expressar” – Denise.

“É preciso ter o olhar da inclusão. A empregada doméstica que trabalhou na minha casa nunca estaria aqui, em um ambiente como este, porque ela não se sente no direto, não é um espaço que ela se sente capaz de ocupar” – Madalena.

“Trabalho em uma organização em Israel, que promove o diálogo entre as partes do conflito que existe lá.
A ideologia dominante é a ideologia do medo, a demonização do inimigo. A partir do momento em que eu demonizo, é fácil manipular e me manter no poder. A rejeição para esta ideologia é o diálogo” – Davi.

“Estamos vivendo em estruturas fossilizadas, antigas, que estão ruindo, e isso é um convite para a gente derrubar. Tenho um amigo que fala que vai plantar uma semente de amor em cada fissura do sistema. É isso que temos que fazer. Temos que achar os nossos espaços.
Eu planto comida em praças na cidade. Temos que ir para o espaço público e construir a realidade alternativa, a partir do desejo que vem na gente. Acho que esse tipo de atitude é muito contagiosa” – Claudia Visoni.

“O mandato do representante deve ser usado para impactar o coletivo. Tenho um exemplo que é um vereador de Mogi das Cruzes que tem uma rede cocriativa com mais de 300 pessoas, que contribuem com suas experiências, ficam próximas ao mandato, desenvolvendo ações para transformar a cidade. Tem o grupo de jovens que pensa políticas públicas para a juventude, um grupo de comunicação, que pensa ações de transparência, e assim por diante” – Severino.

“Esta emergindo um novo ser politico, mas de que ponto de vista nos estamos falando?
É muito difícil pensar o surgimento de um novo ser, em uma cidade tão complexa, que eu costumo dizer que é dividida em tribos. As instituições estão a serviço de determinada classe social. Raros os vereadores que foram eleitos por uma base social. A grande maioria foi financiada por empresas, que hoje determinam a postura dentro do partido politico. As instituições hoje, como estão estruturadas, não servem para fazer essas mudanças” – vereador Toninho Vespoli.

Relatório

No evento também foi realizado o lançamento do relatório ‘O pensamento complexo no campo político: um olhar para o mandato de Ricardo Young’. Produzida pelas jornalistas Izabella Ceccato, Sócia-fundadora da Eco Rede Social, e Juliana Schneider, coordenadora da Escola Schumacher Brasil, a publicação é um olhar para os dois primeiros anos de atividade do mandato do vereador Ricardo Young, em correlação com a teoria da complexidade e outras teorias que embasam essa forma de pensar.

Com exemplo práticos do cotidiano do mandato, o relato torna mais palpável o que de fato significa aplicar no cotidiano político institucional estas teorias.

O relatório pode ser lido online no link http://www2.dlippi.com.br/producaoweb/relatorio_ricardo_young_jul2015/relatorio_ricardo_young/.

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