A Paulista é de todos!
A ciclovia da Paulista é muito mais do que um obra da gestão de Haddad.
É, na verdade, uma conquista, resultado de uma luta de anos dos cicloativistas que já na campanha eleitoral cobraram um compromisso do então candidato do PT no sentido de fazer avançar uma política pública de mobilidade urbana que contemplasse a bicicleta como modal de transporte na cidade. E desde que Haddad assumiu como prefeito, este segmento organizado passou a acompanhar, cobrar, mobilizar e colaborar para a execução desta meta.
Portanto, o mérito da implantação da malha cicloviária na cidade, simbolicamente representada pela inauguração da ciclovia da Paulista no último domingo, é muito mais da sociedade civil organizada, que provocou o diálogo direto com o Executivo e pressionou o Legislativo a incorporar a bicicleta no plano de mobilidade da cidade.
E este é o caminho legítimo para o aprimoramento das políticas públicas de São Paulo. É no exercício pleno da cidadania, na participação efetiva nas discussões dos temas que afetam diretamente a vida de cada um e na mobilização organizada e perseverante, que a sociedade vai se apropriando do espaço público e decidindo o que é melhor para a cidade. Com esta fórmula cidadã de controle social, os governos respondem e respondem bem! Tanto é que o prefeito demonstrou empenho, firmeza e agilidade para entregar em tempo recorde esta obra emblemática que fez o paulistano consolidar a avenida Paulista como um verdadeiro ponto de encontro público da cidade. É este mesmo empenho e presteza que o paulistano espera do prefeito nas outras questões igualmente importantes para o município.
Deste espírito de compartilhamento da avenida mais famosa de São Paulo, ganha cada vez mais força a ideia de transformar a Paulista num grande boulevard, onde o espaço público seria ocupado pelas pessoas e não pelos automóveis, onde os modais de transporte alternativo e não poluentes protagonizassem os deslocamento e onde se concentrariam as vocações artística, cultural, gastronômica, esportiva e turística da cidade em contraponto à pujança financeira da avenida.
É uma proposta ousada e que divide opiniões, obviamente. Há a questão do acesso aos diversos hospitais ali localizados, embora todos tenham também entrada pelas ruas laterais; há o problema da baixa utilização (ainda) da ciclovia, mas leva-se mesmo algum tempo para a sociedade aderir à cultura do transporte por bicicleta; há quem diga que falta planejamento para a mobilidade, que fechar a Paulista seria uma medida para agradar a poucos e que há outros assuntos mais urgentes para cidade, sem falar que há parques para o lazer que poderiam ser melhor utilizados.
Tudo isso é verdade. Como também é verdade que destinar um dia da semana , e por algumas horas, para o lazer das pessoas, teria um valor importantíssimo no resgate da autoestima da cidade. Também é verdade que esta medida não teria um grande custo: seria necessário apenas colocar cavaletes para limitar a área destinada às pessoas. Assim como também é verdade que as antigas “ruas de lazer” da cidade eram muito bem aceitas e frequentadas por toda a família e que este tipo de iniciativa, aos domingos, não iria comprometer drasticamente o escoamento do trânsito na região.
Sem dúvida, há prós e contras nesta questão. Justamente por envolver tantos aspectos, a ideia de fechamento da Paulista aos domingos deve ser aprofundada e discutida de forma ampla pela sociedade. E a Câmara Municipal deve ser o espaço deste debate, reunindo movimentos sociais, especialistas, universidades, legisladores, moradores do entorno, prefeitura, enfim, todos os atores que formam este tecido social rico e diverso que é a população de São Paulo.
É hora de inverter o antigo conceito de que o que é público não é de ninguém. Ao contrário, o que é público é de todos! E é em nome de todos que deve ser cuidado por todos. O espaço público deve ser preservado, aprimorado, ressignificado a fim de colocar a qualidade de vida do paulistano em primeiro lugar e, de uma vez por todas, fazer de São Paulo uma cidade mais humana e sustentável.