Búfalo Soldiers – Fighting for Survival

Ricardo Young

Poucas situações são tão emblemáticas da esquizofrenia socioambiental que acomete nossa cidade do que a situação o Parque dos Búfalos. Às margens da Represa Billings, protegida por toda espécie de leis federais, estaduais e municipais, como área de manancial, fragmento de Mata Atlântica que é, o Parque abriga uma rica diversidade avifauna e 13 nascentes, como uma dádiva da natureza em um período de crise hídrica tão dramático. O Parque dos Búfalos é protegido há 40 anos pelos moradores da região como área de lazer, esporte e atividades culturais.

Há dois anos, com o vencimento da DUP (Declaração de Utilidade Pública) o Prefeito Fernando Haddad viu nessa região uma possibilidade de cumprir suas metas de moradia, trazendo um empreendimento de elevado impacto ambiental do programa Minha Casa Minha Vida para quase 20 mil novos habitantes em um bairro que não comporta, nem mesmo as pessoas que lá já residem. Uma região sem infraestrutura, hospital, escola, transporte público. Na absoluta contramão do que é minimamente coerente em uma cidade em busca da sustentabilidade.

Verdadeiros heróis da cidade, envolvidos no Movimento Parque dos Búfalos e na Rede Novos Parque se ergueram contra as forças políticas e econômicas que se retroalimentam na marcha do crescimento irresponsável da cidade. Que reforça a desigualdade social e a dependência do setor econômico em detrimento do empoderamento e organização social.

Não se trata de produção de moradia popular, pois existem inúmeras alternativas à esse projeto. Inclusive porque a tão sonhada cidade compacta, muito bem expressa no Plano Diretor, e declamada com pompa nos discursos do prefeito, dão a prioridade do adensamento e Habitações de Interesse Social ao longo dos eixos de mobilidade e não nas periferias. Se trata mesmo é do que é mais fácil. Do que já se faz há séculos de destruição dessa cidade: dar dinheiro para construtoras que dão dinheiro para campanhas, que têm escritórios no centro, que empurram os pobres para a periferia, que ocupam ilegalmente áreas que deveriam estar preservadas e precisam ser regularizadas, gerando mais demanda e portanto mais dinheiro para as construtoras.

Também não se trata do que é legal, pois muito dos envolvidos nesse ciclo, são aqueles que fazem e executam as leis. Se trata do que é moral, do que é civilizado. Não há um pingo de civilidade nesse processo. O Movimento Parque dos Búfalos, com profundo conhecimento da região, da história e dos processos jurídicos envolvidos é composto por moradores das regiões do entorno do parque que estão sendo ameaçados de morte por facções criminosas que possivelmente já tem recebido os dividendos.

Facções criminosas agora travestidas de movimentos por moradia que invadiram esta semana a área do parque, abrindo clareiras, cortando e queimando a mata atlântica edificando um precedente especulativo para forçar o empreendimento. Atos estes todos já comprovados por fotos.

Apesar de lutar contra as três esferas de governo aliadas à poderosas forças econômicas, na disputa que acontece dentro da legalidade, o movimento tem a coerência e a Lei ao seu lado e, por isso, têm conseguido muitas vitórias na proteção do parque. Talvez por perceberem que nos trâmites legais, poderiam ser derrotados por um punhado de cidadãos corajosos e bem organizados, resolveram apelar para a ilegalidade revelando que o que parece obviamente condenável aos olhos da lei é, na verdade, o outro lado da mesma moeda. Estão apelando para a guerra por território, onde não há leis. Apelam para violência, ameaças pessoais e invasões agressivas. Tentam assim forçar os movimentos legítimos de defesa de um futuro sustentável para a cidade a abandonarem o que os torna fortes: sua coerência e seu profundo senso de cidadania colaborativa.

A situação é grave. Gravíssima. Com riscos de mortes inocentes e os governos, que deveriam dar o exemplo do que é melhor para a cidade, são justamente os que destroem o senso de cidadania e afastam, cada vez mais o cidadão da verdadeira política.

O que peço ao movimento Parque dos Búfalos agora, é que se apeguem a suas convicções de uma cidade mais saudável, seus princípios de cultura de paz e sua integridade. A situação é tensa, mas os dias de impunidade estão contados.

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