A não eleição de Marina Silva

Ricardo Young

O primeiro turno do pleito eleitoral de 2014 se encerrou. Marina Silva não estará na segunda etapa, mas a candidata sai vitoriosa.

Sua presença na disputa conferiu mais democracia ao processo, garantiu um segundo turno nas eleições presidenciais e colocou suas bandeiras de ética e transparência no centro do debate.

O saldo é positivo. Contudo, é preciso ponderar que teremos mais uma vez um segundo turno marcado pela polarização entre PT e PSDB, que se tornou uma marca de nossa democracia.

Este cenário foi desenhado em uma luta injusta, que colocou Marina Silva diante do poderio das duas maiores máquinas eleitorais do país. Juntas elas realizaram um massacre, do qual Marina não pôde se defender.

A discrepância nos tempos televisivos demonstrou como o formato de distribuição vinculado às coligações partidárias é abusivo e permite que o eleitorado seja manipulado pelos grandes. Marina simplesmente não tinha tempo hábil para se escudar da cruzada difamatória orquestrada por seus adversários. Seus exíguos dois minutos precisavam, por questão de princípios, ser destinados à apresentação de seu programa de governo.

A campanha foi um período de muito esforço e muitos imprevistos, de uma luta hercúlea contra este quadro. À frente de uma coligação que sofreu uma descontinuidade, e tendo que largar atrasada na corrida eleitoral, com a responsabilidade de pilotar um carro que não lhe pertencia, avalio que Marina fez uma campanha de resistência. Ela ameaçou a polaridade e nesse aspecto a política brasileira está sendo reescrita.

O trabalho de se construir uma alternativa de poder teve início em 2010 e não termina aqui. Temos certeza de que apresentamos uma candidatura alinhada com o que há de mais contemporâneo no mundo e ao mesmo tempo dentro dos princípios de desenvolvimento sustentável e da ética.

O projeto de Marina, com o qual compactuo, é um projeto de país. Seguiremos com a formalização da Rede Sustentabilidade e traçando caminhos para que nossas bandeiras se fortaleçam e para que a democracia do país se revigore.

É também em prol da democracia que defendo agora neste segundo turno a alternância de poder. Esta ponderação, que representa a minha opinião e independe da que Marina e a coligação anunciarão nos próximos dias, está calcada na certeza de que a permanência de um único partido por tantos anos no governo não é salutar aos processos democráticos.

A manutenção do poder nas mãos dos mesmos acaba por gerar uma sensação patrimonialista e de impunidade, que é um convite ao ilícito, como de fato temos constatado em todas as esferas de governo em que partidos se perpetuam.

Esta era a minha posição também para o governo do estado de São Paulo, que infelizmente estará por mais quatro anos sob a tutela do PSDB, que há 20 anos ocupa o palácio e não deve sair em breve.

Estou certo de que a alternância no cenário nacional será positiva para o país e também para o PT. Ao voltar para a oposição o partido deve se lembrar de suas raízes e, talvez, resgatar seus ideais de luta, que andam soterrados pela gana da manutenção do comando.

Ainda assim, lembro que qualquer apoio que possa ser sinalizado por Marina, será delineado de forma programática e para este período eleitoral. Não trará necessariamente vínculos com o governo futuro.

Neste primeiro turno nossas bandeiras avançaram, o debate da ética foi pautado de forma ampla e o país tomou conhecimento do movimento da nova política. Considero que Marina sai desta eleição maior do que entrou.

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