Não vamos desistir do Brasil

Ricardo Young

Ontem, antes de embarcar no Rio de Janeiro com destino ao Guarujá (no litoral paulista), Eduardo Campos se despediu de Marina Silva e de todos à sua volta.

Ele entrou no avião levando consigo o brilho no olhar de quem sempre acreditou que é possível construir um Brasil melhor, mais justo e mais sustentável.

Era esta a sua marca. Um homem que encantava a todos, por onde passava, com seu riso franco e otimista e sua disposição para ouvir e contar boas histórias.

Sobre Eduardo há muito que dizer. Neto de Miguel Arraes (1916-2005), viveu a política desde criança. A influência de seu avô moldou seu caráter e seu amor pelo Brasil.

Por coincidência do destino, partiu exatamente nove anos depois de Miguel Arraes. A partida de ambos deixa marcas permanentes na política nacional.

Foi também ao lado do avô que Eduardo Campos iniciou sua carreira política, para, em seguida, tornar-se deputado federal.

Ganhou destaque como articulador do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e à frente do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Consagrou-se como governador de Pernambuco. Seu governo teve a marca do diálogo e da inovação, alcançando grandes avanços na área de segurança, na gestão pública e nas questões ambientais. O apoio popular o levou à reeleição com mais de 80% dos votos.

O homem público e político Eduardo Campos foi forjado entre influências políticas e oportunidades extraordinárias, contudo o que realmente prevalece não é somente a herança política nem a promessa, e sim o que ele fez com essas oportunidades.

Eduardo representava a possibilidade de pensar o Brasil fora da caixa. Um Brasil que clama pela renovação, que exige da democracia o seu compromisso com o novo.

Em torno dele, construiu-se a possibilidade de um sonho com-partilhado, que vem se desenhando com traços cada vez mais fortes de realidade.

A sua juventude, a sua capacidade de articular com diversos

segmentos da sociedade, sem preconceito, e tendo como norte uma fé inabalável de que o Brasil pode criar as condições para a renova-ção da sociedade contagiaram milhões de pessoas.

Eduardo construiu no coração e nas mentes dos brasileiros a possibilidade de um Brasil na plena expressão do potencial do seu povo.

A sua partida não interrompe o seu legado. Aquilo que ele nos deixa é o melhor do que o nosso país pode produzir: entusiasmo, trabalho incansável, capacidade de interlocução ampla, determinação em superar conflitos sem ruptura e apontar para a possibilidade do novo nascendo das profundas contradições que a democracia brasileira tem e ainda terá.

É um legado de alguém que não se rotulou e que ousou, com cordialidade, desafiar axiomas, buscando trilhar o caminho do meio.

Faltam-me palavras para descrever a dimensão da perda de Eduardo Campos. Elas me fogem, não apenas porque tinha por ele grande apreço e admiração, mas também porque considero realmente difícil dimensionarmos o efetivo impacto de sua ausência.

Nós todos que militamos pela sustentabilidade, por um novo jeito de fazer política, por um novo Brasil, devemos agora nos unir ainda mais para que o sonho de Eduardo, que é o sonho de um Brasil melhor, continue.

Estamos de luto.

RICARDO YOUNG, 57, é vereador do município de São Paulo pelo PPS. Foi presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

 

Artigo publicado na Folha de S. Paulo de 14 de Agosto de 2014. Tendências/Debates, p. 3

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