A terra dos céus tem Plano Diretor

Ricardo Young

Nós da comitiva de vereadores que visitou Israel na última semana desembarcamos ontem em São Paulo e devemos continuar articulados para pensar saídas de problemas comuns às grandes cidades.

Como parte da C-40 (Conferência das 40 maiores cidades do mundo), São Paulo deve se fazer presente e também aprender com as soluções para o desenvolvimento sustentável encontradas pelas megacidades.

As cidades de Israel oferecem exemplos importantes: a gestão dos resíduos é altamente eficiente e ecológica; está se superando uma crise com o abastecimento de água – com tecnologias de ponta para dessalinização e um sistema de microgotejamento que mantém parques no país inteiro; graças à segurança pública, as ruas são transitáveis pela noite. Fato esse, aliás, que derruba o mito do estado permanente de violência. Mesmo na cidade de Sderot, primeira na fronteira de Gaza, a violência é controlada devido a um parque de abrigo antiaéreo.

A primeira conclusão que se percebe ao pisar por lá é que eles conseguem lidar com a violência de forma mais saudável do que nós, aqui, com as nossas ruas. Os dados confirmam a sensação de segurança:  a criminalidade atinge 30 a cada 100.000 pessoas em São Paulo. Em Israel,“30” passa para “0,5”.

Outra surpresa é a qualidade da educação. Um dos maiores níveis de alfabetização está entre os palestinos da Cisjordânia: 93% da população sabe ler e escrever. A obrigatoriedade do serviço militar por três anos também provoca um senso de responsabilidade pelo coletivo, já que aos 21 anos de idade já se pode ser responsável por uma patrulha de dez pessoas.

Entre tantos fatos, é o alto nível da educação e da civilidade que fala mais alto. Ele salta aos olhos quando se percebe a boa manutenção da cidade, com limpeza e iluminação impecáveis. Com uma sociedade civil extremamente organizada (como vimos com o movimento de socorro voluntário), eles agem com austeridade e são econômicos, inclusive nos recursos humanos.

No país onde judeus vivem sob governos palestinos e palestinos vivem sob governos judeus, o senso de dever e espírito público daquele povo nos presenteia com um excelente exemplo de gestão do espaço público. Isso é significativo para a economia de Jerusalém, que gira em torno do turismo histórico e religioso. Assim, as regras dos planos diretores, como o baixo gabarito das construções, obedecem à cultura que habita a cidade.

A divisão dos espaços públicos pelo mosaico religioso da capital também é rigorosa. A gestão dos templos sagrados é dividida entre as diversas religiões, incluindo todos e os tornando igualmente responsáveis para que a cidade seja minimamente harmônica.

Em suma: um país com 7 milhões de habitantes que divide sua capital em quatro grandes tradições religiosas e diversas etnias construiu no meio do deserto um Estado viável. A equação inclui tecnologia, corresponsabilidade e respeito pelo espaço público. São Paulo é do tamanho de Israel e já tem provas de que pode ser gerida por fórmulas mais eficientes.

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